Doutrina

DOUTRINA DO PSC

 

“Amar ao próximo como a si mesmo”

APLICAÇÃO DA DOUTRINA

A ética é entendida como um conjunto de normas baseadas num princípio fundamental que define os comportamentos possíveis.

No nosso caso, a Ética Cristã, partindo do princípio fundamental do “Amar ao próximo como a si mesmo”, exige que o indivíduo e o social sejam vistos como partes de um projeto de mundo melhor, em que o bem-estar coletivo seja obtido cada vez mais pela ampliação do bem-estar individual, caracterizando o bem como fim de toda ação.

Por isto, da mesma forma que a doutrina tem caráter imperativo, sua violação supõe uma sanção moral, algo como uma censura, uma repreensão, um conselho, um olhar, um gesto, ou mesmo um silêncio de reprovação.

Deste conceito de ética resulta para nós que:

a) a conciliação entre o fundamental da doutrina e a conjuntura histórica só pode ser feita à luz da ética;

b) a conciliação entre o fundamental da doutrina e a conjuntura histórica só pode ser feita dentro de uma escala de licitude, isto é, do que é lícito, do que é correto

Ideologia

É um conjunto de idéias articulares, capaz de elaborar propostas viáveis para o momento.
Assim, a ideologia maneja um escala de prioridade, permitindo uma opção racional frente a fins múltiplos e alternativos, conciliando a escala de importância com a escala de urgência. Neste sentido, a ideologia é conciliadora, pois trata de conciliar o fundamental da doutrina com o possível de realizar aqui, agora.

Pensando a operacionalização da Doutrina:

Como já percebemos, do que foi aqui escrito alguns pontos básicos precisam ser explicitados para garantir uma visão comum sobre onde (objetivo), a partir de que (filosofia) e como pretender chegar (método).

Objetivo

Todos os Cristãos, de qualquer denominação e de qualquer partido político, devem estar comprometidos na construção de um mundo melhor, baseado no princípio fundamental do “amar ao próximo como a si mesmo”.

Aspectos Filosóficos Derivados

A) Todas as ações humanas devem estar voltados para a realização do homem integral.

B) A auto-reflexão é a base de qualquer projeto.

C) Todo homem, como filho de Deus, tem uma dignidade eminente e imanente.
Por ser eminente, a dignidade do homem é inegociável, não pode ser vendida, não pode ser comprada, não pode ser barganhada.
Por ser imanente, é irrenunciável. Isto quer dizer que o homem não pode renunciar à sua dignidade e que ninguém pode atentar contra ela sem cometer um crime inqualificável.

D) O homem é constituído de matéria e espírito, mas é uno. Além disto, tem uma dimensão social.

E) Todos os homens são iguais porque têm uma origem comum, um destino comum, e uma vocação comum que, sózinhos, praticamente não podem realizar.

F) A família é o mais importante e o mais transcendental dos nexos humanos.

G) Todo homem tem o direito de usar os bens necessários para viver e sustentar decorosamente sua família, dentro das condições históricas normais em cada época.

Método

O método inegociável de atingir os objetivos é através do exercitar sempre o
“ Amar ao Próximo como a si mesmo”.

Como conseqüências temos:

A) Na sociedade civil devem estar presentes: solidariedade, igualdade, justiça e liberdade, reforçando-se mutuamente, sem que nenhum destes valores obstrua os outros.

B) No momento social deve ser buscada uma sociedade solidária, democrática, orgânica, pluralista, comunitária, perfectível.

Sociedade Solidária

É a sociedade em que seus membros fazem mais do que aquilo que a justiça manda fazer, algo mais do que cumprir a sua obrigação.

Sociedade democrática

É aquela que adota a democracia como um sistema de vida. Atente-se para este aspecto: a sociedade democrática não se caracteriza exclusivamente por viver sob um governo democrático; ela se caracteriza essencialmente pelo fato de vivenciar a democracia.

Sociedade orgânica

É a sociedade em que o povo todo está organizado numa infinidade de associações representativas, que servem de instâncias válidas para o diálogo e a participação permanente em todo o processo social. Isto significa que as associações funcionam mesmo.

Sociedade Pluralista

É aquela que defende a existência e os direitos de entidades que pensa diferentemente. A sociedade pluralista admite e estimula as divergências de natureza política, social, jurídica, ideológica ou econômica – mas exige que as entidades sejam democráticas e que respeitem os direitos das pessoas. A sociedade pluralista é a sociedade mais apropriada para o desenvolvimento integral do homem.

Sociedade comunitária

Caracteriza-se pela existência de intensos e espontâneos laços de solidariedade entre seus integrantes, de modo a que todos – e cada um – se sintam participantes da vida do conjunto, compartilhando aspirações, esperanças, êxitos e fracassos.

Sociedade perfectível

É a sociedade que, apesar de sua imperfeição, está sempre determinada a melhorar-se dia a dia, em busca de novas e mais perfeitas soluções para os seus problemas. A sociedade perfectível adota o princípio pedagógico do hoje melhor do que o ontem e o amanhã melhor do que o hoje. Está sempre a caminho da perfeição, uma perfeição que sabe jamais conseguirá alcançar.

Considerações Finais

Como se observa, o PSC é um Partido consciente de que o Partido Social é um projeto de evolução permanente, onde cada ganho significa um degrau a mais na busca de um mundo melhor, em que os indivíduos dentro de suas características particulares participam intensamente da construção de uma sociedade cada vez mais solidária, democrática, orgânica, pluralista, comunitária e perfectível, em que o indivíduo e o coletivo buscam harmonicamente atingir pontos cada vez melhores, tanto para cada indivíduo como para suas estruturas sociais organizadas. Lembrando sempre que o hoje tem de ser melhor do que ontem e o amanhã necessariamente melhor do que hoje.

AS TRÊS DECISÕES

Primeira decisão: Amar a si mesmo

Esta é a primeira das grandes reflexões: aprender a amar si próprio. Tendo consciência de sua limitação, amar como criatura. Desligar-se da culpa permanente, aprender no erro o acerto futuro. Gostar de ser criatura, gostar de vir a ser melhor, maravilhar-se com cada conquista, viver o gozo da vitória de estar vivo, já que “a cada dia basta o seu mal”. Portanto, a valorização de si mesmo como criatura humana é fundamental para atender a esta primeira condição. Por outro lado, se o ser anula-se ou se absolutiza, como poderá amar ao próximo?

Na primeira hipótese, anulada a própria personalidade, criar-se-á uma noção de dependência, a busca de um ser superior que deterá as capacidades e competências que o transformarão em ídolo, atributo a ele conferido nem tanto por estas mesmas capacidades e competências, mas pela auto-anulação do idolatrante. Na segunda hipótese, o ego tornado absoluto, tem-se uma invasão: o homem que se absolutiza, que se caracteriza como tábua de referência, detém as condições de idolatrado, configurando-se neste momento o egoísmo – amor exclusivo ou expressivo de si, implicado na subordinação do interesse de outrem ao seu próprio.

Portanto, acreditamos que ao homem não caberia anular-se ou absolutilizar-se, mas sim assumir uma posição de humanidade. Humanidade pela consciência de sua iluminação concreta e da finitude de sua capacidade expressiva. Cabe-lhe também uma posição de esperança na infinitude de sua consciência, na capacidade intrinsecamente implantada de buscar para si o que julgar de melhor, de progredir, mesmo sem a garantia de atingir seu objetivo. Esta busca deve construir o projeto de aperfeiçoamento permanente de si mesmo.

Assim ele busca uma completude, que paradoxalmente, se encontrada, desdobra-se na certeza de uma nova busca. Esta angústia o leva a procurar no outro a possibilidade de se completar. Deste modo, aprece uma nova decisão.

Segunda decisão: Amar ao Próximo

O homem se defronta com o outro. Aquele que tem, potencialmente, a possibilidade de completá-lo. Desta forma a unidade constitutiva de cada homem dá origem a uma diversidade – dois homens: a constatação de uma diferença.

Observe-se que a unidade que antes era lógica – ser – tem agora que ser buscada primeiramente no simbólico – a comunidade. A igualdade simbólica assim construída, ainda que eternamente ameaçada pela própria limitação intrínseca de toda linguagem, permite que se busque formar uma nova unidade lógica – o nós.

Neste aspecto, o discurso da parábola é cristalino: “Quem é o meu próximo”, embora deva ser determinada à luz de valores e ações esperadas, apresenta em última análise uma só variável em jogo - o amor.

Amar ao próximo não significa submissão, mas reconhecimento do outro como igual a si próprio, o não passar ao largo, o agir em prol do outro. Embora conote uma condição de possibilidade, deve constituir-se numa decisão tomada cotidianamente. Não basta dizer que se ama, conclamar o amor; há que se amar – clamar o amor.

O ato de amar exige o reconhecimento do outro, apesar de suas limitações, de suas potencialidades. Na realidade exige uma posição de fé, um eterno apostar na exteriorização do projeto do outro.

Finalmente, há de se entender que a diferença concreta que existe no plano situacional entre um e outro, o dia-a-dia é geralmente fruta de uma desigualdade de oportunidade, e não de lógica – já que todos originariamente possuem esta mesma potencialidade.

Em síntese, o espaço gerado pela angústia individual, em que o homem buscando sua completude descobre no coletivo uma possibilidade de realização, faz emergir paradoxalmente um novo problema: a compatibilização do ser coletivo com o ser individual. A unidade constitutiva do ser indivíduo, por ter um corpo, uma consciência, acarreta uma busca de unidade a posteriori, quando é transportada para o momento em que dois destes seres se defrontam na objetividade teórica de um primeiro encontro – a gênese do ser coletivo.

Assim, o nós a construir e em permanente construção revela-se inesperadamente instável e ameaçador, dada a eterna negociação simbólica que perspassa e reveste, o processo de sua própria construção. Em conseqüência, chega-se à terceira decisão.

Terceira decisão: Amar ao próximo com a si mesmo

“ Não faças ao outro aquilo que não gostarias que te fizesse” e “fazer ao outro aquilo que te fizesse”. Numa primeira aproximação ambas as respostas são iguais; a nível profundo no entanto, abrigam dois sentidos, que não convém explicitar.

O primeiro seria a noção do não fazer que, embora pareça justa, traz em si uma conotação de individualidade – uma tomada de posição em que o indivíduo encontra-se no centro, não podendo sua ação prejudicar a do outro, que por sua vez constitui outro centro.

O segundo seria a noção do faça, que esconde, no aparente respeito à individualidade do outro, a nação do eu-coletivo, dando maior relevância ao todo em detrimento da parte. Convém frisar que as duas respostas não respondem de per si por toda a estrutura. Ainda que a segunda se lhe aproxime aparentemente, na verdade somente o exercício dinâmico das duas noções poderá levar ao como.

Ressaltamos ainda que amar ao próximo como a si mesmo” exige a junção de três afirmações – que não se privilegiam entre si – fundamentos no verbo poder:

Eu posso – por amar a si mesmo;

Ele pode – por isto eu amo;

Nós podemos – por isto nó amamos.

A estrutura descrita mostra um caminho que se estende de uma igualdade lógica, a consciência individual – aquilo que a criatura tem à imagem e semelhança do Criador, até a busca permanente de uma nova igualdade – o reencontro com o Criador pela busca de compatibilização do indivíduo com o coletivo. Uma nova abordagem das decisões anteriormente descritas e que objetiva facilitar a tomada de decisão por parte do leitor pode ser obtida representando-se graficamente os casos estudados. Da frase “Amar ao próximo como si mesmo” podemos decompor dois eixos:

a) Amar a si mesmo – indivíduo como base do processo

b) Amar ao próximo – a contrapartida própria do social

Conclusão

O caminho do desenvolvimento do indivíduo e do social pressupõe a compatibilização do homem consigo mesmo e com o outro, devendo todo este processo ser dinamicamente constituído. A busca deste desenvolvimento exige ação. A instabilidade das soluções compatibilizadoras entre o projeto coletivo e os projetos individuais leva a um permanentemente projeto político. Trilhar este caminho significa vive o processo democrático.

A mensagem demonstra que não existe a estaticidade de um Estado Democrático, mas sim o dinamismo de um Processo Democrático, exigindo permanente atenção, reconstrução, avaliação – decisão.

O lugar de Deus está mostrado. Sua existência exige fé, e esta é certamente uma posição individual. Todavia a busca deste lugar é um projeto, um projeto que compatibilize o indivíduo com o coletivo através de três decisões – que geram as três condições capazes de viabilizar o Processo Democrático:

Condição necessária: Amar a si mesmo;

Condição de possibilidade: Amar ao próximo;

Condição de Exercício: Amar ao próximo como a si mesmo.

Agradecimentos especiais aos seguintes companheiros pelo trabalho realizado:
Eraldo de Freitas Montenegro
Jorge Pedro Dalledone de Barros
Ronald Abrahão Ázaro